quinta-feira, 7 de abril de 2016

Agnes Grey - Anne Brontë

IMG_20160407_103711.jpgTítulo: Agnes Grey
Autora: Anne Brontë
Ano da primeira publicação: 1847
Editora: Martin Claret
No de páginas: 288
    A literatura do século XIX é extremamente rica no que concerne à escrita de mulheres. Uma das escritoras mais conhecida hoje deste período é Jane Austen, principalmente por seu livro Orgulho e Preconceito cujas adaptações cinematográficas divulgaram amplamente sua obra. Entretanto, Austen não é a única escritora desta época, podemos citar ainda, nos restringindo à Inglaterra, Mary Shelley e as irmãs Brontë.


    Dentre as Brontë se destacam Charlotte pelo romance Jane Eyre e Emily pelo Morro dos Ventos Uivantes. Anne, por sua vez, é a irmã esquecida, cujas obras só agora ganharam uma tradução para o português. Talvez você pense que este apagamento de Anne seja fruto da comparação entre as irmãs cujos livros fizeram maior sucesso, ou que sua escrita seja, em relação à escrita das irmãs, medíocre. No entanto, como desenvolveremos ao longo desta resenha, estes dois argumentos são infundados.
    Agnes Grey é o primeiro romance de Anne e possui como temática a vida de uma governanta na Inglaterra durante o período georgiano. Pode ser que você pense: é o mesmo tema de Charlotte em Jane Eyre. O objetivo desta resenha não é comparar estes dois livros, por este motivo ressalto que ainda que ambas as escritoras versem sobre a situação da governanta na sociedade inglesa e realizem um crítica contundente a mesma sociedade, a abordagem das autoras é muito diferente e deve ser compreendida em suas especificidades e não pela comparação. Ainda assim é notável pontos em comum nestas obras.
    Em relação à narrativa, uma questão importante para o desenvolvimento da personagem principal é transgressão de normas sociais. Primeiramente a mãe de Agnes, Alice, se casa por amor com um homem abaixo de sua condição social e contra a vontade de sua família que por esta razão a exclui dos laços de parentesco. Posteriormente, após a situação financeira dos Grey ser abalada por relações comerciais desastrosas, Agnes e sua irmã mais velha Mary decidem colocar em prática o aprendizado que receberam em casa para arranjar dinheiro e estabilizar economicamente a família. O Sr. Grey é expressamente contra esta ideia, por acreditar ser uma degradação que suas filhas precisem trabalhar – ele já se amargurava interiormente por ter diminuído o prestígio social de sua esposa pelo casamento. Entretanto, com a ajuda da mãe para encontrar um emprego e convencer o pai, Agnes se torna governanta em uma casa de família. É importante levar em consideração que Anne também foi governanta e retrata muito de suas próprias experiências.
    Entusiasmada com a escolha de sua profissão, Agnes adentra um mundo sombrio no qual se espera que ela possa educar crianças constantemente mimadas pelos pais e parentes. Quando falha, a culpa é atribuída somente a ela. Como governanta, Agnes é “coisificada”, seu bem estar não é preocupação de seus patrões ou pupilos, seus desejos mais simples, como o de visitar sua família, são considerados extravagantes e inapropriados para uma pessoa de sua condição social.
    Dentre os aspectos do livro, como todo romance de formação, os contra-exemplos são flagrantes e acompanham a personagem que, apesar de todas as provações, permanece fiel aos seus ideais. É provável que por este motivo a leitura se torne um tanto quanto irritante, pois a maior parte dos personagens está no livro para servirem de contraponto a Agnes. Ainda assim, a narrativa é bastante fluida e bem escrita, o fato desta se realizar em primeira pessoa contribui para a empatia com a personagem principal. Por outro lado, haverá personagens como o Sr. Weston que compartilham das convicções da protagonista. Neste sentido, é interessante perceber a relação quase direta entre o cuidado com os animais e a bondade dos personagens. Enquanto o Sr. Hatfield chuta a velha gata de Nancy, o Sr. Weston salva a mesma gata, isso para não falar nas torturas que o insuportável pupilo de Agnes, Tom Bloomfield, realiza para divertir-se com o sofrimento dos animais. Em relação a Agnes, um elemento que choca o leitor atual, e que segundo a introdução de Cíntia Schwantes também chocou o leitor do século XIX, é a alusão aos castigos físicos como instrumento de disciplina. Agnes muitas vezes lamenta não poder se utilizar da violência para conter seus pupilos.
    Após a primeira publicação em 1847 as obras de Anne são desprezadas pela crítica e a republicação de seu romance mais “radical” The Tenant of Wildfell Hall – sobre o qual também pretendo fazer uma resenha – havia sido impedida por Charlotte, responsável pelos escritos depois da morte da irmã. Talvez isto explique parte do obscurantismo ao qual seus livros foram relegados. Se o motivo pelo qual a crítica depreciou a obra foram os ataques de Anne à sociedade, só posso dizer que esta é mais uma razão pela qual deve-se ler Agnes Grey.
    Por fim, posso dizer que este livro, como um romance de formação que implica no objetivo de formar jovens dentro de certos preceitos morais e intelectuais, não representa um feminismo avant la lettre ainda que incentive certa independência da mulher. Entretanto, dentro do contexto no qual esta obra se insere trata-se de uma crítica firme e contundente a uma sociedade que, como muitas, senão todas, se esforça por encobrir suas imperfeições mais que solucioná-las.
Nynaeve

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