sábado, 23 de abril de 2016

1984 (George Orwell)

Título: 1984

Autor: George Orwell

Ano de Publicação: 1949

Nº de Páginas: 277

Editora: Companhia Editora Nacional


Guerra é Paz
Liberdade é Escravidão
Ignorância é Força

“Duplipensar quer dizer a capacidade de guardar simultaneamente na cabeça duas crenças contraditórias, e aceitá-las ambas”
           
Winston Smith é um funcionário do Ministério da Verdade, e sua principal tarefa é mentir.
É sob a perspectiva de Winston Smith que somos apresentados às ideologias do Partido, uma espécie de entidade que controla a tudo e a todos em Oceania. O Partido tem como seu principal líder o Grande Irmão, a entidade dentro da entidade. Nesse mundo o controle sobre a população é total. O governo sabe o que o individuo come, onde ele trabalha, suas relações, cada passo que dá, o que ele diz ou faz e, principalmente, o Partido tem controle sobre o pensamento da população.
Logo de inicio percebemos que Winston não se ajusta perfeitamente bem às filosofias do Partido, ainda que ele se esforce para transparecer como um perfeito membro do partido, intimamente ele não pertence à ordem do mundo, mas a si mesmo. Seu objetivo maior é se ver livre de todo esse sistema, o que o mantém lúcido são suas memórias e seus ideais, são estas suas válvulas de escape.
A sociedade projetada pelo Partido não abarcava as classes mais pobres (as chamadas proles) em seu modelo perfeito. Havia quatro grandes ministérios, estes compunham o Partido, o Ministério da Paz responsável pela guerra, o Ministério da Fartura que cuidava das questões econômicas, mas tinha, sobretudo, a função de controlar a distribuição de comida à população, o Ministério do Amor cujo papel era manter a Lei e Ordem, dentro, claro, dos princípios do Partido. E por fim, o Ministério da Verdade cuja principal função era mentir, ou melhor, manipular e controlar o passado, o presente e também o futuro. Winston era um dos funcionários desse ministério, seu trabalho era alterar notícias, notas, qualquer coisa que desmentisse os discursos do Partido. O passado é alterado a todo instante, a memória é sempre fabricada e no momento que ela é alterado todos aceitam sem questionar, como se sempre tivesse sido desse jeito. “Quem controla o passado dirige o futuro. Quem dirige o futuro conquista o passado”
A vida de Winston começa a mudar quando se envolve com Júlia e O’Brien, aquilo que antes existia apenas no campo das ideias passa a existir mais concretamente. São principalmente esses dois personagens que dão um impulso maior na história, e que levam Winston a tomar uma direção.
É possível dividir o livro em três grandes partes. A primeira introdutória, que acompanha o cotidiano de Winston, e que também tem como função nos apresentar ao mundo idealizado pelo Partido, suas filosofias, sua composição política e a sociedade, completamente controlada pelo governo. A segunda parte é o momento que o personagem principal deixa somente existir passivamente e começa existir um pouco mais ativamente, onde a história ganha movimento. E por fim a terceira e última parte, que pode ser considerada como o grande clímax da história, e por mais estranho que isso possa parecer (e eu posso estar completamente errada quanto a isso) não significou uma grande reviravolta. O último capítulo torna, ao menos pra mim, o final um tanto quanto ambíguo, abrindo espaço para mais de uma interpretação sobre como tudo terminou de fato.
É apavorante pensar que a filosofia do Partido é tão bem construída, que quase chega-se ao ponto de acreditarmos que ela possa estar certa. Tomo o exemplo o momento que um dos personagens problematiza a noção de liberdade, como nos dizeres do Partido “Liberdade é Escravidão”, pois a liberdade significa estarmos sozinhos, e sozinhos nada conquistamos, é bom sermos escravos de seu sistema, porque ele cuida de você. E por mais que você tente resistir o sistema vai te vencer. O Partido tirará de você a capacidade de pensar, de construir ideias próprias. Te impossibilitará de simplesmente SER, tomará toda a sua humanidade.
“A crimideia não implica a morte. A crimideia é a própria morte”
O grande mérito de 1984, além de sua originalidade, é genialidade de George Orwell, que soube construir perfeitamente bem o universo do livro, e também a grande atmosfera desse mundo. O fato de reconhecermos elementos de nossa realidade, mesmo tendo sido escrito há mais de 60 anos, é extremamente incomodo. Orwell expôs na ficção a realidade que ele viveu, período este das duas grandes guerras e também o momento que encaminhava o auge da Guerra Fria. Período de constantes conflitos internos e externos, tal como escreve em 1984 “Guerra é Paz”.
Não nos falta hoje histórias cuja temática é sobre um mundo distópico. Nem é necessário uma pesquisa muito extensa para encontrar tais histórias, Jogos Vorazes e seus derivados são os exemplos mais recentes, mas essa lista vai muito além. Exemplo maior é a HQ V de Vingança, cuja inspiração ao clássico de George Orwell é gritante. Todos esses e outros tantos beberam, bebem e beberão da fonte de 1984 que foi, sem sombra de dúvidas, um grande marco não só na literatura, mas na cultura pop em geral.
        
Ana Terra

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