terça-feira, 5 de junho de 2018

Música ao longe - Erico Verissimo

Ano de publicação: 1936

Editora: Globo

N° de páginas: 240 


A adolescência é um período conturbado e confuso que infelizmente temos que passar. Algumas vezes pensamos nesse tempo com nostalgia em outros preferimos somente esquecer que um dia passamos por isso. Minha adolescência, em particular, é marcada pela leitura de algumas obras e autores que até hoje tenho um imenso carinho. Lê-los depois de tanto tempo me evoca um misto de sentimentos e ainda que a história permaneça a mesma a pessoa que leu anos atrás certamente não é a mesmo de agora.
            Assim como muitos dos livros que li durante a adolescência Musica ao Longe foi indicação de alguém muito especial, cujos os sentimentos ao ler a obra de Erico Verissimo, tenho certeza, são muito semelhantes aos meus. Talvez por isso que tais obras sejam tão marcantes ou especiais, não há dúvidas que você também tem uma que guarde com o maior carinho, não importa por qual motivo seja.
            Mas por que estou falando tanto sobre memórias ou adolescência afinal?
Música ao Longe é a continuação de Clarissa, primeiro romance do escritor Érico Verissimo. Se no primeiro era focado no início de sua adolescência, duma Clarissa quase criança carregada de inocência e sonhos na Porto Alegre da década de 1930, neste segundo romance a protagonista está mais crescida, amadurecida e não possui a mesma ingenuidade de antes.
De volta à cidade natal Clarissa precisa lidar com uma nova realidade, da família falida que não admite largar mão da tradição e reconhecer que não vive mais os tempos de bonança e dela própria tentando se encaixar num ambiente antes tão conhecido onde um que mal reconhece sua própria família. Para a jovem os valores defendidos por seu pai não condiz com a realidade que vivem e ela parece ser a única a perceber isso, ainda que permaneça calada.
Clarissa passa os dias escrevendo em seu diário, a única companhia que a entende, não há ninguém na família ou na cidade que seja interessante, com exceção talvez de seu primo Vasco, uma incógnita para a moça. E assim vai se passando o tempo, cada dia aprendendo mais e se deslocando mais daqueles que a cercam. Uma jornada de amadurecimento e da descoberta do primeiro amor, um momento por qual todos passamos algum dia e definitivamente não sabemos lidar, não é diferente do que sofre Clarissa.
Música ao Longe não é um livro extraordinário, sua história é bastante simples e é mais um exercício de escrita do autor que uma grande história. Como de costume Verissimo faz sua crítica a sociedade rio-grandense e de quebra à brasileira também, das suas tradições e valores deturpados, da resistência por mudança de uma parcela e penúria vivida pela outra parcela da sociedade, tais críticas naturalmente serão aprimoradas em suas obras seguintes. Naturalmente este não é o melhor trabalho de Erico Verissimo, mas quem disse que precisa ser uma obra prima para que nossos corações sejam conquistados.
Este livro ajudou a moldar meu gosto pela leitura e quando vou escrever gosto de partir de algum ponto que me toque, não simplesmente escrever por escrever. Em algum momento na minha vida li uma história que me conquistou ou emocionou, todos temos isso, não conseguiria falar de Clarissa Albuquerque sem lembrar de mim aos 15 ou 16 anos. Por isso deixo aqui a pergunta: qual a história que te marcou ou te comoveu? Aquela que te define.


Ana Terra




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