Ano de publicação: 2016
Editora: Intrínseca
Nº de páginas: 352
Matéria escura do escritor americano
Blake Crouch foi lançado em 2016, e ficou entre os mais vendidos do ano na
lista do New York Times, e vem fazendo sucesso com a crítica literária e com o
público. Acredito que a ficção científica foi e continua sendo um gênero icônico
que é capaz de atrair diferentes pessoas, em diferentes faixas etárias, e
Crouch consegue inserir o tema de sua obra ao lado de alguns cânones mais antigos,
e ao mesmo tempo inovar; o que torna seu livro tão interessante.
Somos
apresentados ao protagonista Jason Dessen, um homem aparentemente comum que tem
uma vida maravilhosa, junto com a mulher que ama e seu filho. Em sua juventude
Jason estudou e se dedicou durante muitos anos à física quântica, e assim teve
uma ideia que poderia revolucionar todos os conceitos e postulados físicos
colocados até a contemporaneidade. Quando saiu da universidade era considerado
um prodígio, alguém que merecia patrocínio. Entretanto, toda essa trajetória de
sucesso já previamente planejada, muda quando Jason se apaixona perdidamente
pela artista em ascensão, Daniela. Quando ela anuncia que está grávida, ele decide
largar sua carreira nos laboratórios para se dedicar a sua família, assim como sua
esposa que não expõe mais.
Depois
de quinze anos do nascimento de Charlie, Jason se tornou professor de uma
universidade mediana, e vê seus amigos sendo premiados com os estudos que
realizaram durante os anos. Ele acredita na escolha que fez, pois ama sua
família, entretanto, aquela dúvida sempre permanece, “Você é feliz com a vida
que tem?”. É então que tudo na vida de Jason muda drasticamente, em uma noite
quando voltava para casa de um encontro com um amigo, ele é sequestrado de
maneira violenta e inexplicável. Sem entender absolutamente nada depois do
sequestro, Jason acorda em um hospital sem conhecer as pessoas que estão lá. Aos
poucos percebe que aquele mundo não se parece nem um pouco com o seu. Porque
pessoas dizem conhecê-lo sem que ele se lembre disso. Porque ele foi o único
que voltou da caixa e eles precisam interrogá-lo. Porque sua experiência é a única
maneira de saber como controlar um experimento incontrolável.
Logo
Jason se dá conta porque aquela realidade não parece a sua, porque não é.
Naquele lugar o qual ele foi parar, Jason havia feito outra escolha, -
abandonou Daniela e Charlie para se dedicar inteiramente a ciência-, além disso
se tornou o gênio que demonstrava que seria, criou um lugar – a caixa – que aliado
a uma droga, que foi inventada por um de seus amigos mais próximos, é capaz de
desviar a atenção do córtex cerebral para que a realidade não seja observada, e
então seja possível olharmos a matéria escura, as realidades entre a realidade.
Ou seja, o multiverso. Jason que se tornou um físico memorável, não apenas
inventou uma maneira de ter acesso a vidas alternativas da sua própria, mas
resolveu trocar de lugar com o Jason que escolheu sua família, entre infinitos
Jasons que fizeram escolhas completamente diferentes das deles, ou vivem em
lugares nos quais acontecimentos históricos se decorreram de formas diferentes,
ou seja, existem inúmeras possibilidades para cada escolha que Jason fez
durante sua vida.
A
partir de então, Jason busca um jeito de sair daquela vida que não é sua,
sobrevivendo daqueles que exigem respostas do Jason que não é ele, e ainda mais
terrível, encontrar a sua própria realidade entre o infinito. Como procurar um
grão de areia em uma praia. Mesmo parecendo uma missão suicida, o que o motiva
é a consciência de que escolher sua família foi definitivamente a escolha certa.
Se agarrando nessa verdade, ele perpassa mundos, nos quais ele ficou doente, morreu,
ou se separou de Daniela ou simplesmente nunca a conheceu. Toda essa busca para
retomar sua vida, além de confrontar o homem responsável por tudo isso, ele
mesmo.
Acredito
que o melhor do livro, para além da narrativa muito eletrizante, é a reflexão
que traz sobre como cada escolha que fazemos em nossa vida, todos os dias por
menor que seja, é única, e vai nos levar a um caminho também único e imutável. Ou
seja, quais seriam as consequências se escolhêssemos diferente? Como seria se
houvesse uma maneira de acessar outras versões de si? Como remediar os
arrependimentos? É realmente uma reflexão espetacular, extremamente bem explorada
pelo autor neste livro. O quão assustador é ser arrancado da sua vida, e ser
arremessado em um lugar no qual você já não se reconhece, ou as pessoas que
você ama tomaram caminhos diferentes. E o quão assustador é ter você mesmo como
seu pior inimigo, que age como você, pensa como você, faz como você, ou pior é
capaz de ir mais longe.
Matéria escura é realmente muito interessante,
e a leitura é muito dinâmica, mesmo nas explicações mais puramente físicas,
você não precisa ser um expert. O foco não está na descoberta em si, mas nas
possibilidades que ela abre para o acesso ao multiverso e quais podem ser as consequências
dessa escolha. Crouch apresenta um livro capaz de questionar o imutável. E você
o que faria se pudesse acessar o multiverso e suas vidas alternativas?
Sorcha
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