terça-feira, 25 de julho de 2017

O aprendiz de Morte - Terry Pratchett

A morte em Discworld é um esqueleto encapuzado, com chamas azuis no lugar dos olhos, carrega uma respeitável foice e se relaciona bem com gatos. Além disso, ele cavalga um cavalo branco chamado Binky - ou Pituco na tradução - (nada de montarias de esqueletos, afinal, é pouco prático ter de recuperar seus ossos por aí e remontar tudo) e só começa a ficar bêbado após do 47º drink. Ou seja, uma figura imponente cuja voz é projetada imperiosamente pelo livro. Acredite, se a Morte falar você ficará sabendo.
Já Mortimer, mais conhecido como garoto, ops, Mort, é um adolescente bastante comum de 16 anos que falhou miseravelmente em ser escolhido como aprendiz para qualquer profissão na feira de Ramtops. Logo, por que não aceitar a oferta do Ceifeiro da Humanidade, Demolidor de Impérios, Ladrão de Almas, ou qualquer outro nome pelo qual queira chamá-lo; e se tornar um aprendiz de Morte? Como seu pai bem destacou, ele poderia até mesmo herdar o negócio no futuro. Certamente uma boa perspectiva para o primeiro emprego.
Assim, Morte passa a Mort pequenas tarefas inerentes ao trabalho, quer dizer, a delicada arte de conduzir as almas para o Outro Mundo. Não parece muito difícil, só é preciso observar a ampulheta da pessoa em questão, montar Binky e garantir que não esqueceu a foice. O que poderia dar errado? Talvez certa princesa imersa em tramas palacianas um tanto quanto assassinas, mas deixaremos este detalhe de lado. Morte, por outro lado, serve-se de sua merecida folga para tentar compreender o mundo humano, “aproveitar a vida”, quem sabe arranjar um novo emprego “alguma coisa interessante que lide com flores ou gatos”, pode ser?
O livro é repleto de frases de efeito, trocadilhos e humor generalizado, especialmente em relação aos estereótipos recorrentes na literatura fantástica. Todo mago que se considere digno do título possui um bom chapéu pontudo com luas e estrelas bordadas. Esta é uma característica comum à escrita de Terry Pratchett, um dos motivos pelo qual o autor é constantemente comparado a Douglas Adams (Guia Mochileiro das Galáxias) que também possui este lado satírico em relação à ficção científica. Pessoalmente, considero este um excelente elogio para ambos.
O que um leitor de primeira viagem de Pratchett precisa saber é que Discworld tem muitos livros. MUITOS LIVROS. São 42 sem contar spin-offs. Alguns destes formam séries (das bruxas, Rincewind, a guarda da cidade, etc) O Aprendiz de Morte é o primeiro dos livros da Morte; e outros são stand-alone. Você pode começar a ler pela ordem de publicação, pela ordem das séries ou fazer como eu e ler aleatoriamente o que parecer mais interessante. Até onde percebi não houve nenhum efeito colateral desta prática. Apesar de interligados, cada livro possui uma história com começo meio e fim que pode ser lida por si sem danos para a compreensão geral do universo. Informações fragmentadas parecem se reunir para dar algum sentido, se é que isso é possível, para Discworld e quanto mais você lê mais este mundo se revela.
Só posso finalizar esta resenha com a veemente recomendação para que leiam e se minhas palavras ainda não convencerem, talvez este trecho o faça:
“- EU ESTAVA OFERECENDO UM CARGO AO SEU FILHO - informou Morte. - CONTO COM SUA APROVAÇÃO?
- Qual é mesmo o seu trabalho? - perguntou Lezek, encarando o esqueleto vestido de preto sem revelar a menor sombra de espanto.
- CONDUZO ALMAS PARA O PRÓXIMO MUNDO - respondeu Morte.
- Ah - soltou Lezek. - É claro, desculpe, eu já deveria ter adivinhado pelas roupas. Um trabalho muito interessante, bastante estável. O negócio é sólido?
- JÁ ESTOU NELE HÁ ALGUM TEMPO - considerou Morte.
- Excelente. Nunca pensei nisso como trabalho para o Mort, mas é uma boa profissão, uma boa profissão, bastante segura. Qual é o seu nome?
- MORTE.
- Papai... - interveio Mort.
- Nunca ouvi falar da empresa - considerou Lezek. - Onde fica?
- DAS PROFUNDEZAS DO MAR A ALTURAS QUE NEM AS ÁGUIAS PODEM ALCANÇAR - respondeu Morte.
- Nada mal - considerou Lezek.”

Nynaeve

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