A livraria mágica de Paris –
Nina George
Lançado em março desse ano o livro “A
livraria mágica de Paris” é sem dúvida uma das minhas melhores leituras do ano. Da autora alemã Nina George, jornalista, escritora e professora, A livraria
mágica de Paris foi seu primeiro best-seller que foi traduzido para inúmeras línguas,
inclusive o português. Tomei conhecimento do livro através de uma plataforma,
que a partir de várias perguntas diferentes, analisando características suas, e
do seu dia, te indica um livro. Disponível em http://alivrariamagicadeparis.com.br/.
É realmente uma ideia sensacional transformar
a essência do livro em perguntas simples que definem o livro que precisa ler, e
não o que quer no momento, assim como o dom de Jean Perdu.
Já no início do livro somos
apresentados ao seu protagonista Jean Perdu, um cativante homem que está perto
dos 50 anos, e que trabalha como livreiro em seu barco que ele nomeou de “Farmácia
literária”. Perdu tem várias certezas sobre os livros, e a principal é de que
eles são capazes de curar as pessoas. Ou seja, ele indica, literalmente livros
como remédios, e se a pessoa insistir em outro título, ele prefere perder a
venda a que ela sofra com algo inapropriado. Entretanto, logo percebemos que
Perdu apesar de ser um grande conselheiro, e seus clientes o procurarem para
que indique bons títulos, ele mesmo nunca conseguiu superar a perda de um
grande amor. É nesse sentido que mora a maior parte da sensibilidade do livro,
a perda, faz 20 anos que Manon, o amor de Perdu foi embora deixando uma carta
que ele nunca teve coragem de abrir.
É impossível não sentir empatia por
Perdu, porque todos já sofremos por amor, e talvez aqueles que nunca tenham se
apaixonado perdidamente, considerem o livro um pouco enfadonho, entretanto é de
incrível sutileza. Perdu tem seu próprio livro-remédio, Luzes do Sul de Sanary,
que é um pseudônimo. Apesar de conforta-lo o livro não é capaz de fazê-lo
superar o que viveu com Manon. Depois de alguns acontecimentos, ele percebe que
se não fosse atrás do passado, ele nunca estaria pronto para viver de novo. Ele
abre a carta e tem uma revelação surpreendente. Decidido a ir atrás do que aconteceu,
ele organiza seu barco e resolve sair pelo Sena, para encarar seus próprios fantasmas.
Junto com ele vai o escritor de sucesso Max Jordan, que acabou de publicar um
livro chamado A noite, com grande
aclamação da crítica e do público. Entretanto, a fama trouxe consequências sérias
para Max, a perseguição das fãs, entre outras coisas acabou lhe trazendo um
bloqueio criativo, ele embarca para encontrar sua próxima história. A relação
de Max e Perdu é um dos grandes acertos do livro, são duas pessoas
completamente diferentes, que saem em uma viagem por motivos diferentes, estes
não muito claros um para o outro. Mas que no fundo são extremamente parecidos,
e ao longo da narrativa desenvolvem algo quase paternal. Perdu torce para que
Max não cometa os mesmos erros que ele.
Ao longo da viagem em direção ao
norte da França, os dois passam por diversas situações, que fazem com que
amadureçam e busquem compreender melhor suas próprias vidas. Entre a narrativa,
nós podemos ver o diário de Manon, que só é apresentado a Perdu no final do
livro. É incrível vermos um pouco do ponto de vista dela, o que torna a relação
entre ela e Perdu muito mais complexa. Podemos perceber que eram extremamente
apaixonados, não à toa Perdu sofreu durante todos aqueles anos, pois ela foi a
única que ele amou completamente. A partir dos extratos também surgem as razões
de Manon ter ido embora.
Outros personagens secundários do
livro são sensacionais, completam muito a jornada de Perdu. Muito mais do que a
própria Manon, essa viagem significa para Perdu reencontrar a si mesmo, pois
ele ficou todos os anos vivendo nostalgicamente, e nunca aberto para encontrar
novas oportunidades ou pessoas. Ficou parado, no mesmo lugar com seus livros,
sem que nenhum pudesse curá-lo. A busca de Perdu por superação, e pela vida que
ele queria novamente é belíssima, ao confrontar o passado ele descobre que está
pronto para outras experiências, inclusive outro lugar, outros livros, e talvez
outra pessoa.
É incrível a maneira como George transforma
algo tão amargo quanto a perda de um grande amor, em uma jornada tão sensível e
bonita. Ao demonstrar que mesmo aqueles que perdemos fazem parte da nossa vida,
da nossa história. Um romance de superação que acredita no poder de cura dos
livros e do amor.
“Ler é uma viagem sem fim. Uma
viagem longa, até mesmo eterna, na qual nos tornamos mais brandos, mas
carinhosos e mais humanos” (P 116)
Sorcha
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