segunda-feira, 27 de março de 2017

Um crime na Holanda - Georges Simenon



Título: Um crime na Holanda

Autor: Georges Simenon

Ano da primeira publicação: 1931

Editora: L&PM

No de páginas: 160

Um crime na Holanda é um dos primeiros livros de Georges Simenon que possui como protagonista o detetive francês Jules Maigret. Nesta história o inspetor viaja à Delfzijl, uma pequena cidade portuária, com direito a canais e casas de tijolo à vista, para desvendar o assassinato de Conrad Popinga, professor na Escola Naval, portanto, uma figura importante e proeminente na região. A presença de um membro da polícia francesa na Holanda é justificada pela suspeita de que Jean Duclos, um professor universitário francês, tivesse cometido o crime.

A situação parece relativamente clara, Jean Duclos realiza sua conferência sobre a responsabilidade dos assassinos e em seguida é recebido em um jantar na casa dos Popinga juntamente com um seleto grupo de amigos. Após o jantar, Conrad, o anfitrião, é morto com um tiro. Em seguida a arma do crime é encontrada por Duclos e todas as suspeitas recaem sobre ele que, alegando inocência, solicita a presença de um detetive de seu país para solucionar o caso.

            Deste o início a língua se revela uma barreira quase intransponível para Maigret conduzir devidamente as investigações. O detetive é refém de traduções secundárias em grande parte da narrativa e, mesmo dentre os personagens que dominam o francês, está claro que esta não é a língua materna fato que abre um rol de possibilidades nos discursos dos acusados e mesmo exclui vários deles dos interrogatórios do inspetor. Ainda assim, Maigret não se intimida e parece confiar completamente em suas habilidades para investigação.

            Mais que o crime em si, o interessante neste livro são as implicações ideológicas que tal assassinato tem para a população de Delfzijl. Neste caso, se o homicida, assim como sua vítima, for pertencente à alta-sociedade, o acontecimento consistiria em um péssimo exemplo de conduta para as classes mais baixas seguindo a percepção de Maigret de que a burguesia é um modelo para os demais estratos sociais. A base daquela pequena sociedade às margens do Mar do Norte seria colocada em questão. Por outro lado, caso o assassino se revelasse um estrangeiro este crime confirmaria uma tese de perigo externo a rondar a sociedade que, entretanto, está segura em seu interior.

            Outro elemento que chama a atenção ao longo da narrativa é o modo como Maigret se relaciona com as mulheres da história. Ainda que haja uma tendência do leitor para concordar ou, no mínimo, aceitar as ações dos protagonistas, especialmente no que concerne a detetives em romances policiais, é inegável que a proteção de Maigret a Beetje Liewens tem menos relação com sua convicção na inocência da moça que com as curvas da mesma. Assim como sua antipatia instantânea a Any van Elst está diretamente relacionada à desproporção de suas formas e ao posicionamento da mulher como feminista.

            Da mesma maneira que o crime, sua resolução não possuiu nenhum aspecto genial. De fato, tenho a impressão de que até a “explicação final” existem pelo menos três personagens que possuem as mesmas probabilidades de serem os culpados. Contudo, a escolha do autor por um indivíduo em particular revela muito de suas crenças e modo de entendimento da sociedade. A partir destes aspectos concluo, infelizmente, que, apesar da escrita fluida e da excelente descrição de cenário, Um crime na Holanda, tanto no mistério quanto em relação aos temas que aborda, é mais frustrante que divertido.

Nynaeve

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