Título: 1356
Autor: Bernard Cornwell
Ano de publicação: 2012
Editora: Record
Nº de páginas: 420
Publicado em 2012, “1356” retorna com
Thomas de Hookton, da Trilogia “A busca do Graal”, agora como pano de fundo a Batalha
de Poitiers, batalha que faz parte de uma série de conflitos da Guerra dos Cem
anos. Tal como na trilogia Thomas sai em busca de uma nova aventura que
novamente envolve uma relíquia.
O ambiente, assim como os
personagens, é recuperado – a Guerra dos Cem Anos – travada entre França e
Inglaterra no século XIV. 1356 representa isso, pois é o ano da Batalha de
Poitiers, conflito que é decisivo para o desfecho do livro. Cornwell é bastante
famoso por sua ambientação histórica, seus romances costumam acompanhar
acontecimentos medievais, e faz isso de maneira muito interessante, nos
permitindo olhar para a Guerra dos Cem Anos a partir da interpretação de uma
pessoa que participou e testemunhou os episódios. Por isso seus livros são um
modo muito legal de aproximar o leitor da História Medieval, pois seu narrador
principal está sempre envolvido em batalhas e buscas. Devemos fazer ressalvas ao
encarar as obras de Cornwell como um trabalho que se pretende historiográfico,
o próprio autor não ambiciona que a narrativa siga nessa direção, ou seja,
trata-se de uma ficção com ambientação histórica. O que é bastante comum para
vários períodos históricos.
Algo
pertinente no trabalho de Cornwell é a posição de seu protagonista, que foge
completamente da figura usual do herói que segue seu destino. Thomas, é, nesse
momento em 1356, um arqueiro que se tornou cavaleiro por seus feitos passados,
o que aliás também o fizeram ser condenado como herege. Mas no primeiro livro
da Trilogia, “O Arqueiro”, Thomas inicia como um camponês que é filho bastardo
de um padre. Seu pai estava completamente envolvido com alguns segredos da
Igreja Católica, e por esta razão sua aldeia foi atacada. Thomas, que antes era
uma pessoa comum, inicia sua busca por vingança, em virtude disto torna-se um
arqueiro infalível, ou seja, Thomas se caracteriza como uma figura distante de
nobres, reis e assume um papel partilhado por boa parte das pessoas que
realmente viveram na Idade Média.
Uma das coisas que me agrada em
relação à obra de Cornwell é sua preocupação em propor uma imagem da Idade
Média cheia de complexidades. Um dos melhores exemplos são os personagens que
pertencem a Igreja Católica, existem aqueles que muito bons e os que são mais
controversos, como o ambicioso cardeal Bessières. O autor tenta fugir da
dicotomia e das simplificações, demonstrando uma sociedade muito injusta e
violenta, não há grandes idealizações. Um de seus méritos é criar personagens femininas,
nesse ambiente, que tem uma participação ativa. Demonstrando que sofrem muito
por suas condições estipuladas, mesmo assim são muito corajosas e atraentes ao
público, Cornwell certifica que a sociedade é sistemática em condenar as
mulheres sempre que possível.
É importante passarmos por sua
retratação da guerra, Cornwell sempre retrata as batalhas com muitos detalhes,
o que realmente enriquece muito a representação de um acontecimento como a
Batalha de Poiters, por exemplo. Vemos também nesse aspecto que não existem idealismos
quanto ao guerreiro, o herói e glória, o que Cornwell nos apresenta é a guerra,
brutal e cruel, que cobra um preço altíssimo de todos os envolvidos, direta ou
indiretamente, para aqueles que perdem, assim como aqueles que ganham. A morte
é uma coisa que sempre gera um incomodo em Thomas, mesmo que ele não hesite
antes matar alguém quando necessário e seja quase um movimento mecânico
disparar flechas com seu arco, e ainda assim transparecer por vezes ser um
grande redentor. Outro detalhe importante é que Thomas demonstra em vários
momentos um moralismo que é mais condizente do século XXI e não do período
medieval, o que é natural, pois é de onde o autor fala e o público precisa
dessa identificação.
Não é necessário ler a Trilogia para
compreender o enredo de 1356, mas eu aconselharia o leitor a busca-la, pois é
nela que Thomas e outros personagens foram desenvolvidos plenamente, ou seja,
Cornwell parte de características já construídas que não são retomadas nesse
livro. Se tratando especificamente de 1356, o autor nos lança com Thomas atrás
de uma nova relíquia, La Malice, a
espada que São Pedro teria usado para o desgosto de Cristo, e por causa disso
seria maldita. Essa recuperação da busca por uma relíquia é ao meu ver um pouco
desnecessária, pois ela vai tornar a estrutura da narrativa extremamente
semelhante com a Trilogia. O que é um pouco incomodo, pois deixa a sensação de déjà vu, mesmo que Cornwell se esforce
em mostrar o quanto esses objetos são perigosos pelo uso político que lhes foi
imputado. Até a sequência de acontecimentos e o desfecho são parecidos, o que
torna o projeto de continuação da trilogia, um mero anexo.
O ponto forte do livro é o ponto
forte de Cornwell que fica a cargo da ambientação, de Thomas e dos outros
personagens, assim como a Batalha de Poitiers, mas como novidade para dar
prosseguimento a uma narrativa que já estava construída e finalizada, deixa a
desejar.
Sorcha
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