Música ao longe - Erico Verissimo
Ano de publicação: 1936
Editora: Globo
N° de páginas: 240
A adolescência é um período conturbado
e confuso que infelizmente temos que passar. Algumas vezes pensamos nesse tempo
com nostalgia em outros preferimos somente esquecer que um dia passamos por
isso. Minha adolescência, em particular, é marcada pela leitura de algumas
obras e autores que até hoje tenho um imenso carinho. Lê-los depois de tanto
tempo me evoca um misto de sentimentos e ainda que a história permaneça a mesma
a pessoa que leu anos atrás certamente não é a mesmo de agora.
Assim
como muitos dos livros que li durante a adolescência Musica ao Longe foi indicação de alguém muito especial, cujos os
sentimentos ao ler a obra de Erico Verissimo, tenho certeza, são muito
semelhantes aos meus. Talvez por isso que tais obras sejam tão marcantes ou
especiais, não há dúvidas que você também tem uma que guarde com o maior
carinho, não importa por qual motivo seja.
Mas
por que estou falando tanto sobre memórias ou adolescência afinal?
Música
ao Longe é a continuação de Clarissa, primeiro romance do escritor
Érico Verissimo. Se no primeiro era focado no início de sua adolescência, duma
Clarissa quase criança carregada de inocência e sonhos na Porto Alegre da
década de 1930, neste segundo romance a protagonista está mais crescida,
amadurecida e não possui a mesma ingenuidade de antes.
De volta à cidade natal Clarissa precisa
lidar com uma nova realidade, da família falida que não admite largar mão da
tradição e reconhecer que não vive mais os tempos de bonança e dela própria
tentando se encaixar num ambiente antes tão conhecido onde um que mal reconhece
sua própria família. Para a jovem os valores defendidos por seu pai não condiz
com a realidade que vivem e ela parece ser a única a perceber isso, ainda que
permaneça calada.
Clarissa passa os dias escrevendo em
seu diário, a única companhia que a entende, não há ninguém na família ou na
cidade que seja interessante, com exceção talvez de seu primo Vasco, uma
incógnita para a moça. E assim vai se passando o tempo, cada dia aprendendo
mais e se deslocando mais daqueles que a cercam. Uma jornada de amadurecimento
e da descoberta do primeiro amor, um momento por qual todos passamos algum dia
e definitivamente não sabemos lidar, não é diferente do que sofre Clarissa.
Música
ao Longe não é um livro
extraordinário, sua história é bastante simples e é mais um exercício de
escrita do autor que uma grande história. Como de costume Verissimo faz sua
crítica a sociedade rio-grandense e de quebra à brasileira também, das suas
tradições e valores deturpados, da resistência por mudança de uma parcela e
penúria vivida pela outra parcela da sociedade, tais críticas naturalmente
serão aprimoradas em suas obras seguintes. Naturalmente este não é o melhor
trabalho de Erico Verissimo, mas quem disse que precisa ser uma obra prima para
que nossos corações sejam conquistados.
Este livro ajudou a moldar meu gosto
pela leitura e quando vou escrever gosto de partir de algum ponto que me toque,
não simplesmente escrever por escrever. Em algum momento na minha vida li uma
história que me conquistou ou emocionou, todos temos isso, não conseguiria
falar de Clarissa Albuquerque sem lembrar de mim aos 15 ou 16 anos. Por isso
deixo aqui a pergunta: qual a história que te marcou ou te comoveu? Aquela que
te define.
Ana Terra
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