Título: Um crime na Holanda
Autor: Georges Simenon
Ano da primeira publicação:
1931
Editora: L&PM
No de páginas: 160
Um
crime na Holanda é um dos
primeiros livros de Georges Simenon que possui como protagonista o detetive
francês Jules Maigret. Nesta história o inspetor viaja à Delfzijl, uma pequena
cidade portuária, com direito a canais e casas de tijolo à vista, para
desvendar o assassinato de Conrad Popinga, professor na Escola Naval, portanto,
uma figura importante e proeminente na região. A presença de um membro da
polícia francesa na Holanda é justificada pela suspeita de que Jean Duclos, um
professor universitário francês, tivesse cometido o crime.
A situação parece relativamente clara, Jean Duclos
realiza sua conferência sobre a responsabilidade dos assassinos e em seguida é
recebido em um jantar na casa dos Popinga juntamente com um seleto grupo de
amigos. Após o jantar, Conrad, o anfitrião, é morto com um tiro. Em seguida a
arma do crime é encontrada por Duclos e todas as suspeitas recaem sobre ele que,
alegando inocência, solicita a presença de um detetive de seu país para
solucionar o caso.
Deste
o início a língua se revela uma barreira quase intransponível para Maigret
conduzir devidamente as investigações. O detetive é refém de traduções
secundárias em grande parte da narrativa e, mesmo dentre os personagens que
dominam o francês, está claro que esta não é a língua materna fato que abre um
rol de possibilidades nos discursos dos acusados e mesmo exclui vários deles
dos interrogatórios do inspetor. Ainda assim, Maigret não se intimida e parece
confiar completamente em suas habilidades para investigação.
Mais
que o crime em si, o interessante neste livro são as implicações ideológicas que tal
assassinato tem para a população de Delfzijl. Neste caso, se o homicida, assim
como sua vítima, for pertencente à alta-sociedade, o acontecimento consistiria
em um péssimo exemplo de conduta para as classes mais baixas seguindo a
percepção de Maigret de que a burguesia é um modelo para os demais estratos
sociais. A base daquela pequena sociedade às margens do Mar do Norte seria
colocada em questão. Por outro lado, caso o assassino se revelasse um
estrangeiro este crime confirmaria uma tese de perigo externo a rondar a
sociedade que, entretanto, está segura em seu interior.
Outro
elemento que chama a atenção ao longo da narrativa é o modo como Maigret se
relaciona com as mulheres da história. Ainda que haja uma tendência do leitor
para concordar ou, no mínimo, aceitar as ações dos protagonistas, especialmente
no que concerne a detetives em romances policiais, é inegável que a proteção de
Maigret a Beetje Liewens tem menos relação com sua convicção na inocência da
moça que com as curvas da mesma. Assim como sua antipatia instantânea a Any van
Elst está diretamente relacionada à desproporção de suas formas e ao
posicionamento da mulher como feminista.
Da
mesma maneira que o crime, sua resolução não possuiu nenhum aspecto genial. De
fato, tenho a impressão de que até a “explicação final” existem pelo menos três
personagens que possuem as mesmas probabilidades de serem os culpados. Contudo,
a escolha do autor por um indivíduo em particular revela muito de suas crenças
e modo de entendimento da sociedade. A partir destes aspectos concluo,
infelizmente, que, apesar da escrita fluida e da excelente descrição de
cenário, Um crime na Holanda, tanto
no mistério quanto em relação aos temas que aborda, é mais frustrante que
divertido.
Nynaeve
Nenhum comentário:
Postar um comentário