Beck Chambers, escritora de ficção
científica americana, lançou em 2014 o livro “A longa viagem a um pequeno
planeta hostil” e se tornou um grande sucesso com a crítica literária e com os
fãs do gênero. O livro foi primeiramente publicado por um financiamento
coletivo da plataforma Kickstarter, e por conta de seu bom desempenho foi
indicado a vários prêmios, e logo em seguida foi comprado por algumas editoras
que o relançaram.
Cheguei
ao livro através das recomendações da Amazon, e fiquei surpresa com as
indicações e avaliações positivas em geral. Muitos realçaram o fato da autora ser
capaz de trazer novidades ao gênero de ficção científica já muito explorado na
literatura, o que realmente me interessou.
A
narrativa se inicia quando conhecemos o capitão Ashby que controla uma nave
espacial operária. Nesse início podemos dizer que o capitão parece ser o protagonista,
- vide o capitão Kirk de Startrek -, entretanto, esta é uma história cheia de
personagens incríveis. Ashby está feliz porque foi autorizado pelo seu chefe e
a indústria a qual responde, a contratar um novo funcionário para auxiliá-lo
com a organização da nave. Chamada de Andarilha a nave tem uma função muito
especial, ela é capaz de abrir um “buraco de minhoca” no espaço. Esta é a
melhorar maneira de cruzar longíssimas distancias no universo, criando duas
portas e as conectando.
A
nova contratada é uma garota humana de Marte, Rosemary Harper, que viveu em
Marte, mas sempre teve o desejo de conhecer o mais profundo universo. Logo ela
é apresentada aos seus colegas de trabalho. São eles; o Capitão Ashby o
experiente capitão humano, de quem ela tem ótimas primeiras impressões. Corbin,
outro humano, mas conhecido por ser uma pessoa difícil. Kizzy, humana, uma
inteligente engenheira mecânica e Jenks, humano, trabalha com os sistemas de
computação. Os outros membros são alienígenas; Sissix, de uma espécie chamada
Aandriskana, ela tem garras, presas e penas, é co-capitã, como um imediato. Dr
Chef, médico e cozinheiro, e Lovelace o sistema de inteligência artificial que
controla toda a nave.
Assim
que Rosemary se estabilizou com seus colegas e seu trabalho, o capitão recebe
uma mensagem. Dizendo que pelo bom e longo trabalho da tripulação, a nave Andarilha
foi selecionada para uma missão extraordinária, que será longa, mas pagará tão bem,
que eles nunca precisarão trabalhar novamente. Esse novo trabalho consiste em
uma longa viagem para um planeta que acabou de entrar na Comunidade Galáctica,
para que este fique conectado aos outros mundos. Antes de aceitar todos
refletem, pois vão viver muito tempo juntos, mas decidem em grupo irem
construir o “buraco de minhoca”.
Até
esse momento, você pode pensar, parece uma narrativa comum de ficção
científica. Uma grande jornada, um grande herói que vai conquistar o universo.
Mas a autora apresenta algo diferente. O universo, mesmo considerando todas as
espécies alienígenas, é a nossa casa. E há pessoas comuns na nossa casa, com
seus problemas, seus sonhos, sua maneira de viver. Não existe um grande líder
que bravamente vai salvar todo mundo. Nesse livro todos os personagens
contribuem para a jornada. Chambers monta o universo complexo, no qual as
outras espécies são importantes. Por exemplo, a tripulação descobre ao longo da
viagem que o planeta destino, só foi considerado para entrar na Comunidade Galáctica,
porque os outros planetas tinham interesses financeiros, e por não aceitarem isso,
são vistos como um planeta hostil. Entretanto, isso não quer dizer que sejam alienígenas
malignos. Mesmo os antagonistas têm razões compreensíveis.
Mas
para mim, a melhor parte do livro é como funciona a vida entre todos os alienígenas
e quantas possibilidades ela traz. Dr. Chef, por exemplo, é um Grim, uma espécie
capaz de transitar entre os gêneros, em alguns momentos é mulher em outros é
homem. Sissix, simplesmente não entende o comportamento humano e porque usamos
roupas, mas principalmente como há o relacionamento entre a pais e filhos.
Porque na sociedade dela, os jovens reproduzem e entregam o bebê para um casal
mais velho e eles criarão a criança. Ou seja, ninguém cresce realmente com seus
pais, e isso não é um problema. Sissix teve bebês, mas ela não é mãe. Por conta
dessas características ela praticamente vive sem se relacionar com outros da
sua espécie. E trabalhando na nave ela descobre muito sobre a amizade e mesmo
um pouco sobre paixão e amor, quando ela e Rosemary iniciam um relacionamento.
O
Capitão sempre viveu na nave, para ele é quase impossível viver fora do espaço,
mas ele se apaixonou por uma comandante militar. E ele sempre é muito confuso
sobre ela, e tem medo de perdê-la. A autora ainda apresenta uma bela discussão através
de Jenks que é apaixonado por Lovelace, inteligência artificial. Nesse universo
a inteligência artificial não é aceita como vida, apenas como um controlador de
sistema e um servo. A partir disso Chambers demonstra o quão cruel uma
sociedade pode ser quando desrespeita os sentimentos de outros.
O
final do livro é quase dispensável perto da complexidade da longa viagem e de
seus participantes. O universo de Chambers me aparenta ser muito mais real e
possível do que a grande maioria da ficção científica, porque mostra como seria
a vida junto com outras espécies de uma maneira mais natural. E ainda a importância
do respeito, independente de qualquer coisa, sendo que viveremos muito melhor
em conjunto quando aprendermos a respeitar as nossas diferenças.
Sorcha